quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Brasileiros demonstram seu amor à pátria... nos EUA?

Hoje de manhã, como de costume, eu estava assistindo ao Bom Dia Brasil, na Globo. Chamou-me a atenção uma reportagem cuja chamada era: “estudantes são proibidos de usar lenços com bandeira do Brasil em formatura nos EUA”.
A matéria começou de forma amena mostrando a pacata vida dos brasileiros que moravam em uma cidadezinha norte-americana. Segundo a reportagem, 20% dos habitantes são daqui. “Gente que ajuda tocar a economia da cidade”. (Bonzinhos, não? Ajudando os pobres dos norte-americanos, ah!, como brasileiro é bonzinho!)
Pouco depois, o repórter disse: “tudo ia bem com estudantes brasileiros que estavam terminando o High School. Tudo ia bem, quando surgiu um lenço do Brasil”.
Esse grupo de estudantes, super orgulhoso de ser brasileiro, teve a ideia de usar, no dia da colação de grau, aqueles lenços-cachecóis (comuns nos EUA, mas que não sei o nome) sobre a beca, os quais tinham impressa a nossa bandeira. Os diretores da escola, então, proibiram o uso dos mesmos, afirmando que era contra as regras da instituição. (A reportagem ainda frisou o aspecto nacionalista dos EUA e como a população tinha orgulho em hastear sua bandeira, seja por qual motivo). Ao que parece, os professores dividiram-se entre a favor e contra o ato. A matéria mostrou, então, um fala-povo com brasileiros imigrantes e norte-americanos; todos favoráveis ao lenço e absolutamente ofendidos com atitude repressiva da escola, vejam só!
Quiproquó feito, acabou que os brasileiros bateram o pé, deram aquele jeitinho brasileiro e impuseram sua vontade – a de exaltar, apesar de estarem se graduando, vivendo e sobrevivendo em outro país, que o orgulho canarinho era mais importante do que seguir uma regra banal da escola.

À primeira vista, fica para nós a imagem que a reportagem quis tendenciar: a de que os americanos são gente preconceituosa e que os pobres brasileiros não estavam fazendo nada de mais – mas, por serem imigrantes (e brasileiros), foram impedidos bruscamente de realizar um ato inocente.
Pode ser a mais pura verdade, por que não? Mas vamos pensar em outra possibilidade, diferente da mostrada pela Globo - que tal?
O primeiro exercício é fazer a inversão de personagens e imaginar um grupo de americanos, no Brasil, usando um lenço com a bandeira deles no dia da colação de grau. Sendo que, no evento, seria hasteada a nossa bandeira e cantado o nosso hino. “Soa” bem diferente, não? Agora, e se a escola os proibisse de realizar o ato afirmando que teriam que seguir as regras da instituição como os outros - acharíamos um absurdo? Ou a escola estaria apenas cumprindo seu papel e esses alunos seriam uns abusados?
[Lembrei-me de uma vez que estava numa balada em Buenos Aires, com gente de todo o mundo, e havia um “animador” no palco. Uma hora, ele começou a falar o nome dos países para agradar seus representantes ali presentes. Brasil: gritaria e aplausos, bem como outras nações. EUA: vaias. Isso mesmo, vaias. Morri de constrangimento pelos norte-americanos que ali estavam. Enfim, os caras não fizeram nada a ninguém, mas, por serem de uma potência imperialista rica e desejada (secretamente) por quase todos, mereceram uma “salva” de vaias.]

Continuando: para nós, brazucas, podem parecer apenas lencinhos bobos que usamos (tão somente) durante a Copa; no entanto, para os diretores da escola eram objetos que estariam quebrando as regras de conduta da instituição. Pode ser mentira deles, americanos preconceituosos, mas pode ser, quem sabe... verdade!
Esses lenços, viu, causando! Mas... seriam eles simplesmente lenços?
Não: são a materialização de um sentimento que não pode ser argumentado e cujo objetivo é ser introduzido, sem escalas, na mente de quem os enxerga. No caso, um sentimento de retaliação patriótica.
Ao assistir à matéria, minha impressão foi a de que os tais lenços tinham vida própria e gritavam, ao serem orgulhosamente exibidos nos corpos dos brasileiros: “Ei, americanos! Nós saímos de nosso país, que não nos oferecia uma boa qualidade de vida, viemos ao de vocês para tentar uma existência melhor e não pretendemos ir embora, está ótimo aqui. Mas nós amamos o Brasil, ok? Acreditem! Ah: e não estamos nem aí com a bandeira dos EUA, a nossa é mais importante e vocês terão que engolir!”.

Sou a favor da imigração e, óbvio, de se buscar melhores condições de sobrevivência. Mas também sou a favor do respeito ao próximo, especialmente quando o próximo é o anfitrião. Acho que expressar sua cultura é bem diferente de impor sua cultura. Já que a escola disse que o uso dos lenços iria infringir as regras, não poderiam ter usado pulseirinhas, colares ou algo mais discreto? O orgulho não seria o mesmo? Mas não, tinham que urrar, tinham que impor seu suposto patriotismo em um país estrangeiro – país esse que os abriga e lhes oferece (nada menos que) a sobrevivência.
Uma derradeira pergunta a essas pessoas: já que vocês dizem amar tanto o Brasil... o que estão fazendo nos EUA? Voltem pra cá, amigos, afinal nosso país precisa muito mais do orgulho de vocês do que os Estados Unidos da América.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Retórica Clássica na política contemporânea

Teorias do Texto (Argumentação) - 16/8

O período eleitoral é propício para observarmos não apenas as propostas dos candidatos, mas também suas habilidades de discurso a fim de convencer-nos. Afinal, para ganhar o voto do povo, é preciso não apenas ser bom, mas parecer bom (ideia também apresentada em Il Principe, de Machiavelli, no Renascimento).
Mas voltemos alguns (muitos) séculos e aportemos na Grécia Antiga. Com uma sociedade basicamente oral, era de suma importância que as pessoas tivessem a habilidade de se expressar bem, usando corretamente palavras e argumentos para convencer o próximo (seja em atos políticos, judiciários ou eventos públicos).
Passaram-se milênios, a sociedade escrita instaurou-se e, ainda nos dias de hoje, o termo retórica é usado como denotação de um bom ato discursivo. Esta visão de que a retórica é apenas um ornamento do discurso, atribuída ao pensador Quintiliano, não é a mais adequada.
Aristóteles, ao escrever a sua concepção sobre o tema, aprofunda-se no conceito de que a retórica é uma arte comunicativa – que consiste em descobrir os argumentos mais adequados a cada caso com o fim de persuadir. No caso, a persuasão proposta é feita de forma dedutiva, a qual apresenta exemplos gerais que migram ao particular. (Sócrates é homem + todo homem é mortal = Sócrates é mortal).
Resumidamente, a pessoa pode se valer de provas artísticas e/ou inartísticas em seu discurso. As primeiras são aquelas criadas pelo orador, as técnicas e habilidades que ele usará em sua argumentação. As demais são os dados factuais, as provas oficiais como enxergamos nos dias de hoje. O interessante é que, para Aris, são as provas artísticas que têm maior valor na retórica. Ou seja, se você é suficientemente treinado, poderá sair-se bem mesmo que haja dados concretos mostrando o contrário.

Eis os três principais ingredientes que podem influir na sua performance:
- credibilidade/caráter do orador (ethos). Em outras palavras, reputação.
- exploração da emoção (pathos). A plateia deve envolver-se emocionalmente com o discurso. Mas é condenável é extrapolação no uso das emoções, quando o orador se esquece por completo da razão, perde o fio da meada e se vale de meios puramente patheticos para convencer o outro (como a Marta Suplicy fazendo insinuações sobre a sexualidade de Kassab...o que tem a ver com política?)
- Técnica e raciocínio lógico (logos). A forma como a pessoa utiliza as provas artísticas e inartísticas para o fim persuasivo.

Como se observa, a retórica aristotélica é atualíssima: para se conquistar alguém através da argumentação, o orador deve ter credibilidade, eloquência e empatia.

Vejamos para que lado pendem os principais candidatos à Presidência, em minha opinião:
- Ethos: Dilma (por causa do Lula, exclusivamente);
- Logos: Serra (macaco velho, sabe raciocinar melhor);
- Pathos: Marina (gosta de frisar que já foi pobre como a maioria dos brasileiros).

Na próxima aula, vamos nos aprofundar nos três gêneros retóricos propostos por Aris: deliberativo (próximo à política, em que se discutem proposições para o futuro); judiciário (que visa julgar atos ocorridos no passado) e epidídico (nome difícil para homenagens ou censuras feitas no presente).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Teatro Grego – 10/08 (Descobrindo a origem do teatro)

Depois de passar por uma das semanas mais difíceis e desafiadoras de que tenho notícia em minha vida, volto a encarar o blog. Agora, utilizarei o espaço para ajudar-me a fixar as aulas da facul. Vou publicar o post que estava pendente na semana passada, sobre Teatro Grego. Bem interessante o que aprendi!
Faltei no primeiro dia de aula, mas a profª Adriane, felizmente, repassou os principais pontos do surgimento do gênero Tragédia (que, como já aprendi em Clássicos, apresenta verossimilhança com a realidade, ao contrário da Comédia, que nos traz peripécias e reviravoltas de personagens inusitados).
O nome tragédia, ainda, não é à toa: deve-se, segundo Aristóteles (na Poética), à ocorrência da catarse entre o terror e a piedade. Para que isso exista, é preciso que, antes de mais nada, haja a identificação do público com o personagem – o ouvinte deve colocar-se no lugar do ator e sentir-se como ele. Portanto, o maniqueísmo não se aplica à Tragédia – não há heróis ótimos, bem como vilões péssimos.
O teatro surgiu no século VI a.C., sendo composto de um ator que dialogava com o coro (público). Era apresentado somente em festivais, como o que louvava o deus Dioniso.
“Dizem” que seu inventor, que dissociou um membro do coro para interagir com o mesmo, foi um tal de “Tetis”. Nada comprovado.
Outro dado importante é o modo com o qual esse ator multiplicava os personagens: pelo uso de máscaras. Afinal, era apenas um ator em cena.
Era: Ésquilo, principal expoente do teatro clássico, foi pioneiro ao introduzir um segundo ator. As máscaras continuaram a todo o vapor, claro.

Na próxima aula, a professora irá se aprofundar em uma das poucas obras-primas de Ésquilo que resistiram ao tempo: “Os Persas”.

MARATONA: Cidade em que ocorreu uma das vitórias dos gregos sobre os persas (Guerras Médicas). Para chamar reforços para o combate, mensageiros percorriam cerca de 40 km entre a cidade e Atenas. Ainda hoje, as maratonas têm aproximadamente essa distância.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

E eu que buscava ser uma pessoa mais serena...

Ah, que alívio... Parece que pessoas como eu, tidas como estressadas/agressivas, foram finalmente absolvidas pela ciência.
“A sensação de calor percorre o corpo, o coração dispara, a mente fica confusa: ataque de raiva a caminho. Manter esse tipo de emoção sob controle é visto como sinal de equilíbrio. Mas novos estudos apontam que evitar a explosão pode fazer mal, tornando a pessoa mais tensa e fechada”.
Esse é o lead da matéria de capa da Folha Equilíbrio da última semana, que discorreu sobre um estudo recente acerca dos efeitos prejudiciais de se controlar o acesso de raiva – ou, no popular, a “deglutição de sapos”. Quando li, aquela boa sensação de levantar a plaquinha do EU JÁ SABIA anestesiou geral a minha mente.
Herdei geneticamente o pavio curto de meu pai – assim como o meu irmão mais novo, cujo temperamento brabo é muito parecido com o meu. Quando não concordo com alguma situação ou sinto-me injustiçada, a exata sensação descrita na primeira frase da reportagem toma conta de mim. Sinto - de verdade - uma onda de calor muito forte tomar rapidamente meu corpo, e minha mente, embaralhada, não foca em outra coisa senão expulsar essa quentura, o mais rapidamente possível. É fisiológico, sem dúvida alguma.
Agora, imagine estar tomado por esse torpor e simplesmente ignorá-lo, deixar com que ele mande em você, por tempo indeterminado. E, ao final, ainda ter a infeliz sensação de derrota, de que você deixou de ser você mesmo, de se expressar, em nome de... alguma coisa. Pra mim, não dá, tenho que extirpar na hora esse demônio – saia, que este corpo não te pertence!
E, assim, respostas muitas vezes grosseiras (ou “sinceras demais”), buzinas no trânsito, discussões e até palavrões entram em cena como válvula de escape para o calor maligno. Altas doses de adrenalina para, segundos depois, relaxar com a chegada da serotonina. Afinal, não é gratificante o sentimento de ter dado um murro em seu problema? Sim, ele pode até não ter sido nocauteado e voltar mais tarde, mas certamente surgirá menos potente.
É claro que, em nome da civilidade e da política de boa vizinhança, somos obrigados a engolir algumas rãs – e até faz bem. “Deixar quieto” e “apertar o foda-se” são bastante válidos em diversas situações – desde que você genuinamente não ligue para as consequências dessas omissões. Eu mesma tenho colhido bons frutos por, digamos, contar até dez em alguns casos.
Mas, quando é algo que realmente te incomoda... faça-se ouvir! No mínimo, você receberá o perdão de si próprio por ter tentado sanar a questão.
Posso afirmar sem medo que a grande maioria das minhas explosões gerou resultados positivos – e dos quais me orgulho. Talvez seja sorte... ou não! Um exemplo simples e aparentemente banal aconteceu uma vez em que fui viajar pra Socorro. Peguei o ônibus das 8h (leia-se: horário em que as pessoas acabaram de acordar). Pois não é que tinha um grupo de jagunços falando alto e, pior, MUITO PIOR, ouvindo forró em alto e bom som? Dá pra acreditar?? Pois eu mal acreditava não apenas que isso estava acontecendo (repetindo: 8h do sábado), mas também que absolutamente ninguém tomou quaisquer providências. E os homens que se dizem com “H”, cadê? DU-VI-DO que alguém, a não ser o bando em questão, estava gostando daquilo.
E então, em frações de segundo, começou... “A sensação de calor percorre o corpo, o coração dispara, a mente fica confusa: ataque de raiva a caminho”. Já havia respirado fundo e contado até dez algumas vezes a fim de espantar o calor. Mas ele teimou em ficar e dominar-me por completo. Foi quando levantei-me no meio do ônibus e enfrentei a situação sem raciocinar muito.
Clarissa - Com licença. Será que quem está ouvindo essa música poderia baixar o volume? Afinal, estamos em um espaço coletivo e ninguém é obrigado a ouvir a música dos outros!
Jagunço X – Oh, minha linda, me desculpe, vou abaixar. Assim tá bom, oh minha linda?
Clarissa (grunhindo) – Está, obrigada.
Não foi exatamente o que eu queria (e o “oh, minha linda” me irritou absurdamente). E mais: pensando com calma depois, concluí que poderia ter dado BEM errado minha iniciativa – eles poderiam ter me xingado ou até mesmo me agredido, não duvido!
Mas o fato é que dei voz aos meus anseios, expulsei o calor da raiva e, de quebra, poupei os meus ouvidinhos daquele lixo cantado.
Alguém me agradeceu? Não, lógico. Mas não importa: naquele dia, explodiu a minha vontade de fazer valer o meu direito.

Mais uma vitória

“Não esconder a raiva pode até ajudar no desenvolvimento profissional, dizem os pesquisadores. Só uma explosão pode ser capaz de demonstrar, em alguns casos, o quanto se foi ofendido”, diz outro trecho da matéria.
Rapaz!! Essa até me assustou... Como é que adivinharam?
Bom, só para resumir o quanto essa conclusão dos cientistas é válida, pelo menos no meu caso... Simplesmente explodi com minha ex-chefe certa vez, tomada pela raiva de não concordar com os métodos dela (que consistiam em passar para os subordinados suas tarefas de chefe), e, semanas depois, fui promovida!
Isso mesmo: justamente quando eu esperava ser demitida, aconteceu o oposto.
Mas, pensando bem, se eu tivesse sido dispensada, sairia com a cabeça erguida. Afinal, segui meu protocolo à risca: o de explodir a raiva de estar sendo injustiçada. E bem na cabeça de quem merece.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Apego e sofrimento: diretamente proporcionais

Ontem fui levar a Baratinha, meu carro, para a revisão de 30 mil km. (digressões à parte, o “pacote fechado Ranault” já vai me sair 3x o preço inicial). Então, de repente, lembrei-me de uma promessa que havia feito a mim mesma, anos atrás, e que não estava cumprindo no momento: a de não me apegar a carros e outros objetos inanimados. E, como item básico dessa premissa, está o simples fato de não dar nomes ao veículo. “Carro”, é assim que deve ser denominado.
Toda essa minha resistência de hoje é fruto de um trauma. Sim, um trauma grande, até! Culpa do Pug... Quem me conhece há uns dez anos também conheceu (e, com certeza, pegou carona) no Puguinho, meu primeiro carro. Era um Fiestinha usado, mas muito potente e confortável. O agravante da história é que, desde os 17 anos, eu contava os dias para tirar a carta de motorista e ter minha própria condução – ou, como Freud nem precisa explicar muito, ter um pouco mais de independência.
Deduz-se facilmente, então, que o Pug (abreviação de Pulguento, simpático nome dado por amigas minhas), comprado pouco depois de eu conseguir a habilitação, era uma grande felicidade pra mim. Mais um agravante: fui uma das primeiras de meus amigos a ter carro, então o Pug era uma alegria não só pra mim, mas para todo um grupo de pessoas. Tanto que um amigo da faculdade até tinha feito uma comunidade em homenagem a ele no Orkut. Comunidade essa que foi extinta abruptamente após...após....a morte do Pug! Isso mesmo! Não vou entrar em detalhes (pois são muitos, e dramáticos), mas um belo dia o motor do Pug simplesmente pegou fogo – e eu assisti àquelas chamas consumindo seu “coração” absolutamente perplexa. Ele morreu na hora – no jargão automobilístico, “deu PT”.
Pode parecer bobo, infantil, mas a verdade é que fiquei muuuito triste com a situação – e não só pela dor de cabeça que ter problema com carro sempre gera. Fiquei extremamente chateada, a ponto de chorar, porque eu havia transformado aquele objeto, um carro, em um amigo – mais do que isso, em um companheiro, que me possibilitou pela primeira vez sentir o gostinho da independência e da maioridade.
Triste, muito triste.
Porém, como sempre devemos tirar lições produtivas de todas as nossas experiências (como bem ensinam os manuais de autoajuda), constatei rapidamente que o Pug era tão somente um carro, nada mais. Receber o dinheiro do seguro, que incrivelmente foi mais do que paguei na compra, me fez abrir um sorriso e pensar que “até que foi bom o que aconteceu”. Ou então, o bom e velho: “há males que vem para o bem”.
A promessa que fiz, então, foi de não me apegar tanto a carros, pois, assim como os humanos, eles SEMPRE dão problema – mas, ao contrário dos humanos, podem ser vendidos e trocados facilmente. Uma boa atitude da minha parte, pois, com certeza, minimizou bastante a amargura que tive com meus carros de nº 2 (um Ka, que deu vááários problemas mecânicos e foi parado pela polícia – outra bela história) e nº 3 (um Gol, que simplesmente foi roubado antes que eu terminasse de pagá-lo).
Já o meu carro de nº 4... também atende pelo nome de Baratinha. Não, não fui eu que rompi com minha própria promessa, foi o meu namorado que começou a chamá-lo assim – e “pegou”, fazer o quê? O pior é que, realmente, parece uma baratinha.....rss
Bom, “ela”, por enquanto, não me causou tantos transtornos (foi reprovada na inspeção veicular, o que me deixou muito brava, mas tudo bem). Vamos indo.

Agora, transpor esse exercício do desapego às relações humanas, bem, é praticamente impossível – e não vale a pena, creio. Eu, como todas as pessoas, já passei por problemas de perda de entes queridos e já vivi amores sofridos. Nessas situações difíceis com pessoas, a saída, para mim, é aceitar que não posso ter o controle sobre os outros, ou sobre o que acontece com os outros. Não é (e não há) uma fórmula para se sofrer menos; mas, talvez, para se sofrer o necessário.

Bom, voltando à Baratinha (que é um carro, simplesmente), fica um último recado, e com rima: por ti, lágrimas jamais derramarei; e, se quiser trocá-la por outro melhor, indiscutivelmente o farei.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Maioria dos brasileiros é contra adoção por casal gay

Não esta brasileira aqui!De acordo com matéria publicada na Folha.com, uma pesquisa recente da Datafolha revela que 51% dos brasileiros são contra a adoção de filhos por casais homossexuais - contra 33% favoráveis.Honestamente, achei que o número de contrários à prática fosse maior.Mas, mesmo assim, é alarmante notar como as pessoas gostam de cuidar da vida dos outros. Sim, a questão é essa! Você tem todo o direito de não nutrir, digamos, simpatia pelo público GLBT. Agora, opinar sobre os direitos deles como cidadãos (exatamente iguais a você), ora, francamente! Tratá-los como diferentes é tratá-los como não-humanos. Vergonhoso.É por essas e outras que muitas vezes sinto-me no tempo das cavernas. Em que é preciso dar uma marretada na cabeça dos outros para se conseguir o que quer.Sei que somos conduzidos através de várias esferas da sociedade (religião, família, religião, cultura, religião, mídia, religião etc.) a pensar de forma estreita, mas como seres humanos dotados de logos temos, sim, como traçar nossa própria trilha.A questão dos direitos dos gays não deveria nem ao menos ser uma questão. Todos são pessoas, todos têm as mesmas capacidades e defeitos, todo têm, enfim, os mesmos direitos.Quem é contra e tenta forjar alguma justificativa irracional devia, antes de mais nada, cuidar da própria vida.Sou parte dos 33% dos brasileiros a favor da adoção por parte de gays, héteros, bis e indecisos. Desde que tenham condições, todos estão no mesmo nível - o humano.

Minha segunda vez

Blog... a primeiríssima coisa que me vem à cabeça são aqueles diários de infância, aqueles estilo “Querido diário, hoje eu...”. Brega!
Em toda a minha história – e olha que, infelizmente, são quase três décadas de história - eu fiz apenas uma tentativa de escrever um diário, ou algo similar. Lembro-me direitinho, foi na quarta série do ensino fundamental (turma “A”, se bem me recordo), eu devia ter uns nove ou dez anos. Certo dia, avistei aquele caderno fofo na prateleira do supermercado e o coloquei no carrinho, sem consultar minha mãe, pra variar. Era em tons terrosos, meio marrom, meio “rosa antigo” (adoro) e tinha um ursinho desenhado no meio. As páginas tinham aquele cheirinho (brega!) de “coisas para meninas”.
Dotada de meu novo artefato, decidi por começar a escrever na segunda-feira, após o colégio. Empolgada, usei canetas coloridas para registrar que minha amiga X havia dito que gostava do menino Y. Empolgante começo, um furo de reportagem!
Já os dias seguintes...
Bem, eu não tinha muitas novidades concretas e passei a escrever qualquer coisa, só para dar continuidade à obra. Por isso, escrevia mais sobre o que estava pensando e sentindo no momento – ou seja, “desabafando”. O grande problema é que, posteriormente (pelo menos pra mim), tais registros muitas vezes perdiam totalmente o sentido e estavam revirados, do avesso.
Daí, a vergonha. Quanta baboseira! Que coisa mais idiota, confessar-se em um caderninho chulo....brega!
E esse foi meu próprio calcanhar de Aquiles no quesito diário: ficar cara a cara comigo mesma, uma pessoa não muito sentimental, que não gosta de blábláblá e que “tem mais o que fazer”. Impaciente. Mas foi uma experiência de autoconhecimento, se pensarmos pelo lado positivo.
Enfim, dias depois joguei o caderninho fofo fora e decidi viver minha vida sem registros escritos. Bem mais prático, não?
Aí surgiram os blogs, os diários eletrônicos... e veio-me à mente exatamente a mesma equação: diário + confissões = breguice.
Por isso, nunca tive um blog e sempre tive um pé atrás com aqueles que o têm.
Porém, contudo, no entanto... às voltas com minha possível formatura em Letras e pensando no porquê de ter gastado tanto tempo e neurônios nessa difícil empreitada (sim, é bem difícil, especialmente para quem, como eu, não tem o perfil acadêmico), a qual inicialmente não irá agregar valor (literalmente) na minha profissão de jornalista, resolvi dar uma nova chance ao texto livre.
Já tenho que escrever muito no dia a dia, seja no trabalho, seja em trabalhos e provas da faculdade. Mas é tudo cheio de regras, de limites, e tenho de segui-los - senão, posso perder o emprego e/ou ser reprovada.
Em suma, darei mais uma chance ao diário. Por precaução, vou procurar não falar de mim, e sim de quaisquer outras coisas.
Ainda com um certo receio, decidi colocar minhas iniciais como nome do blog, talvez numa tentativa de refugiar-me de meu próprio pré-conceito.
Vejamos, então, se o blog sobreviverá amanhã.