segunda-feira, 2 de agosto de 2010

E eu que buscava ser uma pessoa mais serena...

Ah, que alívio... Parece que pessoas como eu, tidas como estressadas/agressivas, foram finalmente absolvidas pela ciência.
“A sensação de calor percorre o corpo, o coração dispara, a mente fica confusa: ataque de raiva a caminho. Manter esse tipo de emoção sob controle é visto como sinal de equilíbrio. Mas novos estudos apontam que evitar a explosão pode fazer mal, tornando a pessoa mais tensa e fechada”.
Esse é o lead da matéria de capa da Folha Equilíbrio da última semana, que discorreu sobre um estudo recente acerca dos efeitos prejudiciais de se controlar o acesso de raiva – ou, no popular, a “deglutição de sapos”. Quando li, aquela boa sensação de levantar a plaquinha do EU JÁ SABIA anestesiou geral a minha mente.
Herdei geneticamente o pavio curto de meu pai – assim como o meu irmão mais novo, cujo temperamento brabo é muito parecido com o meu. Quando não concordo com alguma situação ou sinto-me injustiçada, a exata sensação descrita na primeira frase da reportagem toma conta de mim. Sinto - de verdade - uma onda de calor muito forte tomar rapidamente meu corpo, e minha mente, embaralhada, não foca em outra coisa senão expulsar essa quentura, o mais rapidamente possível. É fisiológico, sem dúvida alguma.
Agora, imagine estar tomado por esse torpor e simplesmente ignorá-lo, deixar com que ele mande em você, por tempo indeterminado. E, ao final, ainda ter a infeliz sensação de derrota, de que você deixou de ser você mesmo, de se expressar, em nome de... alguma coisa. Pra mim, não dá, tenho que extirpar na hora esse demônio – saia, que este corpo não te pertence!
E, assim, respostas muitas vezes grosseiras (ou “sinceras demais”), buzinas no trânsito, discussões e até palavrões entram em cena como válvula de escape para o calor maligno. Altas doses de adrenalina para, segundos depois, relaxar com a chegada da serotonina. Afinal, não é gratificante o sentimento de ter dado um murro em seu problema? Sim, ele pode até não ter sido nocauteado e voltar mais tarde, mas certamente surgirá menos potente.
É claro que, em nome da civilidade e da política de boa vizinhança, somos obrigados a engolir algumas rãs – e até faz bem. “Deixar quieto” e “apertar o foda-se” são bastante válidos em diversas situações – desde que você genuinamente não ligue para as consequências dessas omissões. Eu mesma tenho colhido bons frutos por, digamos, contar até dez em alguns casos.
Mas, quando é algo que realmente te incomoda... faça-se ouvir! No mínimo, você receberá o perdão de si próprio por ter tentado sanar a questão.
Posso afirmar sem medo que a grande maioria das minhas explosões gerou resultados positivos – e dos quais me orgulho. Talvez seja sorte... ou não! Um exemplo simples e aparentemente banal aconteceu uma vez em que fui viajar pra Socorro. Peguei o ônibus das 8h (leia-se: horário em que as pessoas acabaram de acordar). Pois não é que tinha um grupo de jagunços falando alto e, pior, MUITO PIOR, ouvindo forró em alto e bom som? Dá pra acreditar?? Pois eu mal acreditava não apenas que isso estava acontecendo (repetindo: 8h do sábado), mas também que absolutamente ninguém tomou quaisquer providências. E os homens que se dizem com “H”, cadê? DU-VI-DO que alguém, a não ser o bando em questão, estava gostando daquilo.
E então, em frações de segundo, começou... “A sensação de calor percorre o corpo, o coração dispara, a mente fica confusa: ataque de raiva a caminho”. Já havia respirado fundo e contado até dez algumas vezes a fim de espantar o calor. Mas ele teimou em ficar e dominar-me por completo. Foi quando levantei-me no meio do ônibus e enfrentei a situação sem raciocinar muito.
Clarissa - Com licença. Será que quem está ouvindo essa música poderia baixar o volume? Afinal, estamos em um espaço coletivo e ninguém é obrigado a ouvir a música dos outros!
Jagunço X – Oh, minha linda, me desculpe, vou abaixar. Assim tá bom, oh minha linda?
Clarissa (grunhindo) – Está, obrigada.
Não foi exatamente o que eu queria (e o “oh, minha linda” me irritou absurdamente). E mais: pensando com calma depois, concluí que poderia ter dado BEM errado minha iniciativa – eles poderiam ter me xingado ou até mesmo me agredido, não duvido!
Mas o fato é que dei voz aos meus anseios, expulsei o calor da raiva e, de quebra, poupei os meus ouvidinhos daquele lixo cantado.
Alguém me agradeceu? Não, lógico. Mas não importa: naquele dia, explodiu a minha vontade de fazer valer o meu direito.

Mais uma vitória

“Não esconder a raiva pode até ajudar no desenvolvimento profissional, dizem os pesquisadores. Só uma explosão pode ser capaz de demonstrar, em alguns casos, o quanto se foi ofendido”, diz outro trecho da matéria.
Rapaz!! Essa até me assustou... Como é que adivinharam?
Bom, só para resumir o quanto essa conclusão dos cientistas é válida, pelo menos no meu caso... Simplesmente explodi com minha ex-chefe certa vez, tomada pela raiva de não concordar com os métodos dela (que consistiam em passar para os subordinados suas tarefas de chefe), e, semanas depois, fui promovida!
Isso mesmo: justamente quando eu esperava ser demitida, aconteceu o oposto.
Mas, pensando bem, se eu tivesse sido dispensada, sairia com a cabeça erguida. Afinal, segui meu protocolo à risca: o de explodir a raiva de estar sendo injustiçada. E bem na cabeça de quem merece.

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