quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Brasileiros demonstram seu amor à pátria... nos EUA?

Hoje de manhã, como de costume, eu estava assistindo ao Bom Dia Brasil, na Globo. Chamou-me a atenção uma reportagem cuja chamada era: “estudantes são proibidos de usar lenços com bandeira do Brasil em formatura nos EUA”.
A matéria começou de forma amena mostrando a pacata vida dos brasileiros que moravam em uma cidadezinha norte-americana. Segundo a reportagem, 20% dos habitantes são daqui. “Gente que ajuda tocar a economia da cidade”. (Bonzinhos, não? Ajudando os pobres dos norte-americanos, ah!, como brasileiro é bonzinho!)
Pouco depois, o repórter disse: “tudo ia bem com estudantes brasileiros que estavam terminando o High School. Tudo ia bem, quando surgiu um lenço do Brasil”.
Esse grupo de estudantes, super orgulhoso de ser brasileiro, teve a ideia de usar, no dia da colação de grau, aqueles lenços-cachecóis (comuns nos EUA, mas que não sei o nome) sobre a beca, os quais tinham impressa a nossa bandeira. Os diretores da escola, então, proibiram o uso dos mesmos, afirmando que era contra as regras da instituição. (A reportagem ainda frisou o aspecto nacionalista dos EUA e como a população tinha orgulho em hastear sua bandeira, seja por qual motivo). Ao que parece, os professores dividiram-se entre a favor e contra o ato. A matéria mostrou, então, um fala-povo com brasileiros imigrantes e norte-americanos; todos favoráveis ao lenço e absolutamente ofendidos com atitude repressiva da escola, vejam só!
Quiproquó feito, acabou que os brasileiros bateram o pé, deram aquele jeitinho brasileiro e impuseram sua vontade – a de exaltar, apesar de estarem se graduando, vivendo e sobrevivendo em outro país, que o orgulho canarinho era mais importante do que seguir uma regra banal da escola.

À primeira vista, fica para nós a imagem que a reportagem quis tendenciar: a de que os americanos são gente preconceituosa e que os pobres brasileiros não estavam fazendo nada de mais – mas, por serem imigrantes (e brasileiros), foram impedidos bruscamente de realizar um ato inocente.
Pode ser a mais pura verdade, por que não? Mas vamos pensar em outra possibilidade, diferente da mostrada pela Globo - que tal?
O primeiro exercício é fazer a inversão de personagens e imaginar um grupo de americanos, no Brasil, usando um lenço com a bandeira deles no dia da colação de grau. Sendo que, no evento, seria hasteada a nossa bandeira e cantado o nosso hino. “Soa” bem diferente, não? Agora, e se a escola os proibisse de realizar o ato afirmando que teriam que seguir as regras da instituição como os outros - acharíamos um absurdo? Ou a escola estaria apenas cumprindo seu papel e esses alunos seriam uns abusados?
[Lembrei-me de uma vez que estava numa balada em Buenos Aires, com gente de todo o mundo, e havia um “animador” no palco. Uma hora, ele começou a falar o nome dos países para agradar seus representantes ali presentes. Brasil: gritaria e aplausos, bem como outras nações. EUA: vaias. Isso mesmo, vaias. Morri de constrangimento pelos norte-americanos que ali estavam. Enfim, os caras não fizeram nada a ninguém, mas, por serem de uma potência imperialista rica e desejada (secretamente) por quase todos, mereceram uma “salva” de vaias.]

Continuando: para nós, brazucas, podem parecer apenas lencinhos bobos que usamos (tão somente) durante a Copa; no entanto, para os diretores da escola eram objetos que estariam quebrando as regras de conduta da instituição. Pode ser mentira deles, americanos preconceituosos, mas pode ser, quem sabe... verdade!
Esses lenços, viu, causando! Mas... seriam eles simplesmente lenços?
Não: são a materialização de um sentimento que não pode ser argumentado e cujo objetivo é ser introduzido, sem escalas, na mente de quem os enxerga. No caso, um sentimento de retaliação patriótica.
Ao assistir à matéria, minha impressão foi a de que os tais lenços tinham vida própria e gritavam, ao serem orgulhosamente exibidos nos corpos dos brasileiros: “Ei, americanos! Nós saímos de nosso país, que não nos oferecia uma boa qualidade de vida, viemos ao de vocês para tentar uma existência melhor e não pretendemos ir embora, está ótimo aqui. Mas nós amamos o Brasil, ok? Acreditem! Ah: e não estamos nem aí com a bandeira dos EUA, a nossa é mais importante e vocês terão que engolir!”.

Sou a favor da imigração e, óbvio, de se buscar melhores condições de sobrevivência. Mas também sou a favor do respeito ao próximo, especialmente quando o próximo é o anfitrião. Acho que expressar sua cultura é bem diferente de impor sua cultura. Já que a escola disse que o uso dos lenços iria infringir as regras, não poderiam ter usado pulseirinhas, colares ou algo mais discreto? O orgulho não seria o mesmo? Mas não, tinham que urrar, tinham que impor seu suposto patriotismo em um país estrangeiro – país esse que os abriga e lhes oferece (nada menos que) a sobrevivência.
Uma derradeira pergunta a essas pessoas: já que vocês dizem amar tanto o Brasil... o que estão fazendo nos EUA? Voltem pra cá, amigos, afinal nosso país precisa muito mais do orgulho de vocês do que os Estados Unidos da América.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Retórica Clássica na política contemporânea

Teorias do Texto (Argumentação) - 16/8

O período eleitoral é propício para observarmos não apenas as propostas dos candidatos, mas também suas habilidades de discurso a fim de convencer-nos. Afinal, para ganhar o voto do povo, é preciso não apenas ser bom, mas parecer bom (ideia também apresentada em Il Principe, de Machiavelli, no Renascimento).
Mas voltemos alguns (muitos) séculos e aportemos na Grécia Antiga. Com uma sociedade basicamente oral, era de suma importância que as pessoas tivessem a habilidade de se expressar bem, usando corretamente palavras e argumentos para convencer o próximo (seja em atos políticos, judiciários ou eventos públicos).
Passaram-se milênios, a sociedade escrita instaurou-se e, ainda nos dias de hoje, o termo retórica é usado como denotação de um bom ato discursivo. Esta visão de que a retórica é apenas um ornamento do discurso, atribuída ao pensador Quintiliano, não é a mais adequada.
Aristóteles, ao escrever a sua concepção sobre o tema, aprofunda-se no conceito de que a retórica é uma arte comunicativa – que consiste em descobrir os argumentos mais adequados a cada caso com o fim de persuadir. No caso, a persuasão proposta é feita de forma dedutiva, a qual apresenta exemplos gerais que migram ao particular. (Sócrates é homem + todo homem é mortal = Sócrates é mortal).
Resumidamente, a pessoa pode se valer de provas artísticas e/ou inartísticas em seu discurso. As primeiras são aquelas criadas pelo orador, as técnicas e habilidades que ele usará em sua argumentação. As demais são os dados factuais, as provas oficiais como enxergamos nos dias de hoje. O interessante é que, para Aris, são as provas artísticas que têm maior valor na retórica. Ou seja, se você é suficientemente treinado, poderá sair-se bem mesmo que haja dados concretos mostrando o contrário.

Eis os três principais ingredientes que podem influir na sua performance:
- credibilidade/caráter do orador (ethos). Em outras palavras, reputação.
- exploração da emoção (pathos). A plateia deve envolver-se emocionalmente com o discurso. Mas é condenável é extrapolação no uso das emoções, quando o orador se esquece por completo da razão, perde o fio da meada e se vale de meios puramente patheticos para convencer o outro (como a Marta Suplicy fazendo insinuações sobre a sexualidade de Kassab...o que tem a ver com política?)
- Técnica e raciocínio lógico (logos). A forma como a pessoa utiliza as provas artísticas e inartísticas para o fim persuasivo.

Como se observa, a retórica aristotélica é atualíssima: para se conquistar alguém através da argumentação, o orador deve ter credibilidade, eloquência e empatia.

Vejamos para que lado pendem os principais candidatos à Presidência, em minha opinião:
- Ethos: Dilma (por causa do Lula, exclusivamente);
- Logos: Serra (macaco velho, sabe raciocinar melhor);
- Pathos: Marina (gosta de frisar que já foi pobre como a maioria dos brasileiros).

Na próxima aula, vamos nos aprofundar nos três gêneros retóricos propostos por Aris: deliberativo (próximo à política, em que se discutem proposições para o futuro); judiciário (que visa julgar atos ocorridos no passado) e epidídico (nome difícil para homenagens ou censuras feitas no presente).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Teatro Grego – 10/08 (Descobrindo a origem do teatro)

Depois de passar por uma das semanas mais difíceis e desafiadoras de que tenho notícia em minha vida, volto a encarar o blog. Agora, utilizarei o espaço para ajudar-me a fixar as aulas da facul. Vou publicar o post que estava pendente na semana passada, sobre Teatro Grego. Bem interessante o que aprendi!
Faltei no primeiro dia de aula, mas a profª Adriane, felizmente, repassou os principais pontos do surgimento do gênero Tragédia (que, como já aprendi em Clássicos, apresenta verossimilhança com a realidade, ao contrário da Comédia, que nos traz peripécias e reviravoltas de personagens inusitados).
O nome tragédia, ainda, não é à toa: deve-se, segundo Aristóteles (na Poética), à ocorrência da catarse entre o terror e a piedade. Para que isso exista, é preciso que, antes de mais nada, haja a identificação do público com o personagem – o ouvinte deve colocar-se no lugar do ator e sentir-se como ele. Portanto, o maniqueísmo não se aplica à Tragédia – não há heróis ótimos, bem como vilões péssimos.
O teatro surgiu no século VI a.C., sendo composto de um ator que dialogava com o coro (público). Era apresentado somente em festivais, como o que louvava o deus Dioniso.
“Dizem” que seu inventor, que dissociou um membro do coro para interagir com o mesmo, foi um tal de “Tetis”. Nada comprovado.
Outro dado importante é o modo com o qual esse ator multiplicava os personagens: pelo uso de máscaras. Afinal, era apenas um ator em cena.
Era: Ésquilo, principal expoente do teatro clássico, foi pioneiro ao introduzir um segundo ator. As máscaras continuaram a todo o vapor, claro.

Na próxima aula, a professora irá se aprofundar em uma das poucas obras-primas de Ésquilo que resistiram ao tempo: “Os Persas”.

MARATONA: Cidade em que ocorreu uma das vitórias dos gregos sobre os persas (Guerras Médicas). Para chamar reforços para o combate, mensageiros percorriam cerca de 40 km entre a cidade e Atenas. Ainda hoje, as maratonas têm aproximadamente essa distância.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

E eu que buscava ser uma pessoa mais serena...

Ah, que alívio... Parece que pessoas como eu, tidas como estressadas/agressivas, foram finalmente absolvidas pela ciência.
“A sensação de calor percorre o corpo, o coração dispara, a mente fica confusa: ataque de raiva a caminho. Manter esse tipo de emoção sob controle é visto como sinal de equilíbrio. Mas novos estudos apontam que evitar a explosão pode fazer mal, tornando a pessoa mais tensa e fechada”.
Esse é o lead da matéria de capa da Folha Equilíbrio da última semana, que discorreu sobre um estudo recente acerca dos efeitos prejudiciais de se controlar o acesso de raiva – ou, no popular, a “deglutição de sapos”. Quando li, aquela boa sensação de levantar a plaquinha do EU JÁ SABIA anestesiou geral a minha mente.
Herdei geneticamente o pavio curto de meu pai – assim como o meu irmão mais novo, cujo temperamento brabo é muito parecido com o meu. Quando não concordo com alguma situação ou sinto-me injustiçada, a exata sensação descrita na primeira frase da reportagem toma conta de mim. Sinto - de verdade - uma onda de calor muito forte tomar rapidamente meu corpo, e minha mente, embaralhada, não foca em outra coisa senão expulsar essa quentura, o mais rapidamente possível. É fisiológico, sem dúvida alguma.
Agora, imagine estar tomado por esse torpor e simplesmente ignorá-lo, deixar com que ele mande em você, por tempo indeterminado. E, ao final, ainda ter a infeliz sensação de derrota, de que você deixou de ser você mesmo, de se expressar, em nome de... alguma coisa. Pra mim, não dá, tenho que extirpar na hora esse demônio – saia, que este corpo não te pertence!
E, assim, respostas muitas vezes grosseiras (ou “sinceras demais”), buzinas no trânsito, discussões e até palavrões entram em cena como válvula de escape para o calor maligno. Altas doses de adrenalina para, segundos depois, relaxar com a chegada da serotonina. Afinal, não é gratificante o sentimento de ter dado um murro em seu problema? Sim, ele pode até não ter sido nocauteado e voltar mais tarde, mas certamente surgirá menos potente.
É claro que, em nome da civilidade e da política de boa vizinhança, somos obrigados a engolir algumas rãs – e até faz bem. “Deixar quieto” e “apertar o foda-se” são bastante válidos em diversas situações – desde que você genuinamente não ligue para as consequências dessas omissões. Eu mesma tenho colhido bons frutos por, digamos, contar até dez em alguns casos.
Mas, quando é algo que realmente te incomoda... faça-se ouvir! No mínimo, você receberá o perdão de si próprio por ter tentado sanar a questão.
Posso afirmar sem medo que a grande maioria das minhas explosões gerou resultados positivos – e dos quais me orgulho. Talvez seja sorte... ou não! Um exemplo simples e aparentemente banal aconteceu uma vez em que fui viajar pra Socorro. Peguei o ônibus das 8h (leia-se: horário em que as pessoas acabaram de acordar). Pois não é que tinha um grupo de jagunços falando alto e, pior, MUITO PIOR, ouvindo forró em alto e bom som? Dá pra acreditar?? Pois eu mal acreditava não apenas que isso estava acontecendo (repetindo: 8h do sábado), mas também que absolutamente ninguém tomou quaisquer providências. E os homens que se dizem com “H”, cadê? DU-VI-DO que alguém, a não ser o bando em questão, estava gostando daquilo.
E então, em frações de segundo, começou... “A sensação de calor percorre o corpo, o coração dispara, a mente fica confusa: ataque de raiva a caminho”. Já havia respirado fundo e contado até dez algumas vezes a fim de espantar o calor. Mas ele teimou em ficar e dominar-me por completo. Foi quando levantei-me no meio do ônibus e enfrentei a situação sem raciocinar muito.
Clarissa - Com licença. Será que quem está ouvindo essa música poderia baixar o volume? Afinal, estamos em um espaço coletivo e ninguém é obrigado a ouvir a música dos outros!
Jagunço X – Oh, minha linda, me desculpe, vou abaixar. Assim tá bom, oh minha linda?
Clarissa (grunhindo) – Está, obrigada.
Não foi exatamente o que eu queria (e o “oh, minha linda” me irritou absurdamente). E mais: pensando com calma depois, concluí que poderia ter dado BEM errado minha iniciativa – eles poderiam ter me xingado ou até mesmo me agredido, não duvido!
Mas o fato é que dei voz aos meus anseios, expulsei o calor da raiva e, de quebra, poupei os meus ouvidinhos daquele lixo cantado.
Alguém me agradeceu? Não, lógico. Mas não importa: naquele dia, explodiu a minha vontade de fazer valer o meu direito.

Mais uma vitória

“Não esconder a raiva pode até ajudar no desenvolvimento profissional, dizem os pesquisadores. Só uma explosão pode ser capaz de demonstrar, em alguns casos, o quanto se foi ofendido”, diz outro trecho da matéria.
Rapaz!! Essa até me assustou... Como é que adivinharam?
Bom, só para resumir o quanto essa conclusão dos cientistas é válida, pelo menos no meu caso... Simplesmente explodi com minha ex-chefe certa vez, tomada pela raiva de não concordar com os métodos dela (que consistiam em passar para os subordinados suas tarefas de chefe), e, semanas depois, fui promovida!
Isso mesmo: justamente quando eu esperava ser demitida, aconteceu o oposto.
Mas, pensando bem, se eu tivesse sido dispensada, sairia com a cabeça erguida. Afinal, segui meu protocolo à risca: o de explodir a raiva de estar sendo injustiçada. E bem na cabeça de quem merece.