quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Retórica Clássica na política contemporânea

Teorias do Texto (Argumentação) - 16/8

O período eleitoral é propício para observarmos não apenas as propostas dos candidatos, mas também suas habilidades de discurso a fim de convencer-nos. Afinal, para ganhar o voto do povo, é preciso não apenas ser bom, mas parecer bom (ideia também apresentada em Il Principe, de Machiavelli, no Renascimento).
Mas voltemos alguns (muitos) séculos e aportemos na Grécia Antiga. Com uma sociedade basicamente oral, era de suma importância que as pessoas tivessem a habilidade de se expressar bem, usando corretamente palavras e argumentos para convencer o próximo (seja em atos políticos, judiciários ou eventos públicos).
Passaram-se milênios, a sociedade escrita instaurou-se e, ainda nos dias de hoje, o termo retórica é usado como denotação de um bom ato discursivo. Esta visão de que a retórica é apenas um ornamento do discurso, atribuída ao pensador Quintiliano, não é a mais adequada.
Aristóteles, ao escrever a sua concepção sobre o tema, aprofunda-se no conceito de que a retórica é uma arte comunicativa – que consiste em descobrir os argumentos mais adequados a cada caso com o fim de persuadir. No caso, a persuasão proposta é feita de forma dedutiva, a qual apresenta exemplos gerais que migram ao particular. (Sócrates é homem + todo homem é mortal = Sócrates é mortal).
Resumidamente, a pessoa pode se valer de provas artísticas e/ou inartísticas em seu discurso. As primeiras são aquelas criadas pelo orador, as técnicas e habilidades que ele usará em sua argumentação. As demais são os dados factuais, as provas oficiais como enxergamos nos dias de hoje. O interessante é que, para Aris, são as provas artísticas que têm maior valor na retórica. Ou seja, se você é suficientemente treinado, poderá sair-se bem mesmo que haja dados concretos mostrando o contrário.

Eis os três principais ingredientes que podem influir na sua performance:
- credibilidade/caráter do orador (ethos). Em outras palavras, reputação.
- exploração da emoção (pathos). A plateia deve envolver-se emocionalmente com o discurso. Mas é condenável é extrapolação no uso das emoções, quando o orador se esquece por completo da razão, perde o fio da meada e se vale de meios puramente patheticos para convencer o outro (como a Marta Suplicy fazendo insinuações sobre a sexualidade de Kassab...o que tem a ver com política?)
- Técnica e raciocínio lógico (logos). A forma como a pessoa utiliza as provas artísticas e inartísticas para o fim persuasivo.

Como se observa, a retórica aristotélica é atualíssima: para se conquistar alguém através da argumentação, o orador deve ter credibilidade, eloquência e empatia.

Vejamos para que lado pendem os principais candidatos à Presidência, em minha opinião:
- Ethos: Dilma (por causa do Lula, exclusivamente);
- Logos: Serra (macaco velho, sabe raciocinar melhor);
- Pathos: Marina (gosta de frisar que já foi pobre como a maioria dos brasileiros).

Na próxima aula, vamos nos aprofundar nos três gêneros retóricos propostos por Aris: deliberativo (próximo à política, em que se discutem proposições para o futuro); judiciário (que visa julgar atos ocorridos no passado) e epidídico (nome difícil para homenagens ou censuras feitas no presente).

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