quarta-feira, 28 de julho de 2010

Apego e sofrimento: diretamente proporcionais

Ontem fui levar a Baratinha, meu carro, para a revisão de 30 mil km. (digressões à parte, o “pacote fechado Ranault” já vai me sair 3x o preço inicial). Então, de repente, lembrei-me de uma promessa que havia feito a mim mesma, anos atrás, e que não estava cumprindo no momento: a de não me apegar a carros e outros objetos inanimados. E, como item básico dessa premissa, está o simples fato de não dar nomes ao veículo. “Carro”, é assim que deve ser denominado.
Toda essa minha resistência de hoje é fruto de um trauma. Sim, um trauma grande, até! Culpa do Pug... Quem me conhece há uns dez anos também conheceu (e, com certeza, pegou carona) no Puguinho, meu primeiro carro. Era um Fiestinha usado, mas muito potente e confortável. O agravante da história é que, desde os 17 anos, eu contava os dias para tirar a carta de motorista e ter minha própria condução – ou, como Freud nem precisa explicar muito, ter um pouco mais de independência.
Deduz-se facilmente, então, que o Pug (abreviação de Pulguento, simpático nome dado por amigas minhas), comprado pouco depois de eu conseguir a habilitação, era uma grande felicidade pra mim. Mais um agravante: fui uma das primeiras de meus amigos a ter carro, então o Pug era uma alegria não só pra mim, mas para todo um grupo de pessoas. Tanto que um amigo da faculdade até tinha feito uma comunidade em homenagem a ele no Orkut. Comunidade essa que foi extinta abruptamente após...após....a morte do Pug! Isso mesmo! Não vou entrar em detalhes (pois são muitos, e dramáticos), mas um belo dia o motor do Pug simplesmente pegou fogo – e eu assisti àquelas chamas consumindo seu “coração” absolutamente perplexa. Ele morreu na hora – no jargão automobilístico, “deu PT”.
Pode parecer bobo, infantil, mas a verdade é que fiquei muuuito triste com a situação – e não só pela dor de cabeça que ter problema com carro sempre gera. Fiquei extremamente chateada, a ponto de chorar, porque eu havia transformado aquele objeto, um carro, em um amigo – mais do que isso, em um companheiro, que me possibilitou pela primeira vez sentir o gostinho da independência e da maioridade.
Triste, muito triste.
Porém, como sempre devemos tirar lições produtivas de todas as nossas experiências (como bem ensinam os manuais de autoajuda), constatei rapidamente que o Pug era tão somente um carro, nada mais. Receber o dinheiro do seguro, que incrivelmente foi mais do que paguei na compra, me fez abrir um sorriso e pensar que “até que foi bom o que aconteceu”. Ou então, o bom e velho: “há males que vem para o bem”.
A promessa que fiz, então, foi de não me apegar tanto a carros, pois, assim como os humanos, eles SEMPRE dão problema – mas, ao contrário dos humanos, podem ser vendidos e trocados facilmente. Uma boa atitude da minha parte, pois, com certeza, minimizou bastante a amargura que tive com meus carros de nº 2 (um Ka, que deu vááários problemas mecânicos e foi parado pela polícia – outra bela história) e nº 3 (um Gol, que simplesmente foi roubado antes que eu terminasse de pagá-lo).
Já o meu carro de nº 4... também atende pelo nome de Baratinha. Não, não fui eu que rompi com minha própria promessa, foi o meu namorado que começou a chamá-lo assim – e “pegou”, fazer o quê? O pior é que, realmente, parece uma baratinha.....rss
Bom, “ela”, por enquanto, não me causou tantos transtornos (foi reprovada na inspeção veicular, o que me deixou muito brava, mas tudo bem). Vamos indo.

Agora, transpor esse exercício do desapego às relações humanas, bem, é praticamente impossível – e não vale a pena, creio. Eu, como todas as pessoas, já passei por problemas de perda de entes queridos e já vivi amores sofridos. Nessas situações difíceis com pessoas, a saída, para mim, é aceitar que não posso ter o controle sobre os outros, ou sobre o que acontece com os outros. Não é (e não há) uma fórmula para se sofrer menos; mas, talvez, para se sofrer o necessário.

Bom, voltando à Baratinha (que é um carro, simplesmente), fica um último recado, e com rima: por ti, lágrimas jamais derramarei; e, se quiser trocá-la por outro melhor, indiscutivelmente o farei.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Maioria dos brasileiros é contra adoção por casal gay

Não esta brasileira aqui!De acordo com matéria publicada na Folha.com, uma pesquisa recente da Datafolha revela que 51% dos brasileiros são contra a adoção de filhos por casais homossexuais - contra 33% favoráveis.Honestamente, achei que o número de contrários à prática fosse maior.Mas, mesmo assim, é alarmante notar como as pessoas gostam de cuidar da vida dos outros. Sim, a questão é essa! Você tem todo o direito de não nutrir, digamos, simpatia pelo público GLBT. Agora, opinar sobre os direitos deles como cidadãos (exatamente iguais a você), ora, francamente! Tratá-los como diferentes é tratá-los como não-humanos. Vergonhoso.É por essas e outras que muitas vezes sinto-me no tempo das cavernas. Em que é preciso dar uma marretada na cabeça dos outros para se conseguir o que quer.Sei que somos conduzidos através de várias esferas da sociedade (religião, família, religião, cultura, religião, mídia, religião etc.) a pensar de forma estreita, mas como seres humanos dotados de logos temos, sim, como traçar nossa própria trilha.A questão dos direitos dos gays não deveria nem ao menos ser uma questão. Todos são pessoas, todos têm as mesmas capacidades e defeitos, todo têm, enfim, os mesmos direitos.Quem é contra e tenta forjar alguma justificativa irracional devia, antes de mais nada, cuidar da própria vida.Sou parte dos 33% dos brasileiros a favor da adoção por parte de gays, héteros, bis e indecisos. Desde que tenham condições, todos estão no mesmo nível - o humano.

Minha segunda vez

Blog... a primeiríssima coisa que me vem à cabeça são aqueles diários de infância, aqueles estilo “Querido diário, hoje eu...”. Brega!
Em toda a minha história – e olha que, infelizmente, são quase três décadas de história - eu fiz apenas uma tentativa de escrever um diário, ou algo similar. Lembro-me direitinho, foi na quarta série do ensino fundamental (turma “A”, se bem me recordo), eu devia ter uns nove ou dez anos. Certo dia, avistei aquele caderno fofo na prateleira do supermercado e o coloquei no carrinho, sem consultar minha mãe, pra variar. Era em tons terrosos, meio marrom, meio “rosa antigo” (adoro) e tinha um ursinho desenhado no meio. As páginas tinham aquele cheirinho (brega!) de “coisas para meninas”.
Dotada de meu novo artefato, decidi por começar a escrever na segunda-feira, após o colégio. Empolgada, usei canetas coloridas para registrar que minha amiga X havia dito que gostava do menino Y. Empolgante começo, um furo de reportagem!
Já os dias seguintes...
Bem, eu não tinha muitas novidades concretas e passei a escrever qualquer coisa, só para dar continuidade à obra. Por isso, escrevia mais sobre o que estava pensando e sentindo no momento – ou seja, “desabafando”. O grande problema é que, posteriormente (pelo menos pra mim), tais registros muitas vezes perdiam totalmente o sentido e estavam revirados, do avesso.
Daí, a vergonha. Quanta baboseira! Que coisa mais idiota, confessar-se em um caderninho chulo....brega!
E esse foi meu próprio calcanhar de Aquiles no quesito diário: ficar cara a cara comigo mesma, uma pessoa não muito sentimental, que não gosta de blábláblá e que “tem mais o que fazer”. Impaciente. Mas foi uma experiência de autoconhecimento, se pensarmos pelo lado positivo.
Enfim, dias depois joguei o caderninho fofo fora e decidi viver minha vida sem registros escritos. Bem mais prático, não?
Aí surgiram os blogs, os diários eletrônicos... e veio-me à mente exatamente a mesma equação: diário + confissões = breguice.
Por isso, nunca tive um blog e sempre tive um pé atrás com aqueles que o têm.
Porém, contudo, no entanto... às voltas com minha possível formatura em Letras e pensando no porquê de ter gastado tanto tempo e neurônios nessa difícil empreitada (sim, é bem difícil, especialmente para quem, como eu, não tem o perfil acadêmico), a qual inicialmente não irá agregar valor (literalmente) na minha profissão de jornalista, resolvi dar uma nova chance ao texto livre.
Já tenho que escrever muito no dia a dia, seja no trabalho, seja em trabalhos e provas da faculdade. Mas é tudo cheio de regras, de limites, e tenho de segui-los - senão, posso perder o emprego e/ou ser reprovada.
Em suma, darei mais uma chance ao diário. Por precaução, vou procurar não falar de mim, e sim de quaisquer outras coisas.
Ainda com um certo receio, decidi colocar minhas iniciais como nome do blog, talvez numa tentativa de refugiar-me de meu próprio pré-conceito.
Vejamos, então, se o blog sobreviverá amanhã.